Monday, January 01, 2007

2007: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Pra começar, longe de mim querer desafinar o coro dos contentes, deixando de entoar os velhos augúrios de felicidade e harmonia, de um ano novo pleno de alegrias e sucessos aos meus leitores. Mas é preciso ser realista. Como Hardy, a Hiena, tão injustamente acusada de pessimismo por sua sábia precaução. Temos de convir que são muitos os perigos à espreita nos próximos 12 meses, a começar pelos tradicionais rega-bofes e outros ritos de virada de ano, marcados pelas simpatias e superstições.

Longe de mim querer assustá-lo, mas pode ser que as 3 sementinhas de romã que você guardou na carteira já tenham ido pro chão logo no primeiro dia do ano, quando você sacou aquela notinha de 1 real para dar ao garoto que te acordou às 6 da manhã pedindo “bom princípio”, lembra? Pois é, os carocinhos a uma hora dessas devem estar em algum bueiro – o que no mínimo é um péssimo presságio.

Há quem prefira guardar uma nota de dólar e atravessar o ano com ela pra cima e pra baixo. Se for o seu caso, livre-se do mico enquanto é tempo, antes que a cotação despenque ainda mais. Fora que dá azar - vide o caso do assessor do irmão do José Genoíno. Guardou um monte na cueca, e olha só no que deu. Desista, não vale a pena.

Como não poderia deixar de ser, no fim de 2006 você ganhou uma agenda linda. Todo animado, você preencheu seus dados até com o tipo sangüíneo e colocou nas primeiras páginas as fabulosas resoluções para 2007 – perder peso, pedir a conta, parar de fumar, abrir negócio, conhecer a Austrália e por aí vai. Longe de mim querer desanimá-lo, mas até março ela já terá virado caderno de receitas da sua esposa.

Agora é tarde, mas ao invés das pândegas, bailes, bebedeiras e buzinaços do réveillon você deveria ter preferido o aconchego do lar. Longe de mim querer repreendê-lo, mas um bom escalda-pés, seguido de amistoso e aconchegante par de pantufas, não teria sido muito melhor que acordar não sei aonde e perguntar pra não sei quem sobre não sei quê?

Acima de qualquer coisa, no ano novo se deseja paz. Longe de mim querer ser chato, mas nada é mais incompatível com ela que os ensurdecedores rojões, bombinhas, traques e congêneres espocados à meia-noite. Somos massageados por mensagens profundas e tocantes falando de busca da essência interior, de encontro do eu verdadeiro, de preces pelo entendimento entre os homens. E o que se vê (e se ouve) é uma Sarajevo em cada esquina. E em cada esquina, hordas de gente de branco. Parece assembléia do sindicato dos enfermeiros ou simpósio de pai-de-santo.

Crendice das mais arraigadas para os praianos da gema e veranistas de ocasião é aquela história de pular 7 ondas e fazer 7 pedidos. Longe de mim querer me meter, mas o 7 deveria ser evitado por ser um número cabalístico. Você poderia pular 6 ondas, embora digam que esse é o número do cão-danado. Pulando só 5, os desejos poderiam não se realizar direito, vai saber. Por via das dúvidas, o melhor seria ter pulado 8, que são os 7 regulamentares e mais 1 de lambuja. Sim, porque 2007 tem que ter fartura. E longe de mim deixar de desejar isso pra você.