Saturday, June 17, 2006

MINHAS FÉRIAS NA FAZENDA DO VOVÔ

Quando cheguei o notebook tava com a bateria fraca, vim jogando Fifa Soccer na viagem. Foi um trampo pra achar, na casa do vô, uma tomada que encaixasse no carregador.

Meu quarto era maneiro. Chapei com o visu da janela. Mas um pentelho de um ganso não parava quieto, e eu tinha que deixar tudo fechado pra não ouvir a barulheira dele.

O rango era estranho. Galinha ao molho pardo, polenta, pururuca, vaca atolada. Ainda bem que minha mãe me forrou a mochila com Doritos e Toddynho. Não ia comer aqueles bagulhos esquisitos nem a pau.

Um dia bateu uma larica forte. Pedi pro vô o telefone de um disk-pizza, tava a fim de traçar uma redonda com tudo o que tinha direito. O vô disse que pizza por ali só no forno da fazenda. Mas a lenha precisava cortar e mussarela não tinha, só queijo fresco e coalhada. Ferrou legal.

Minha vó ficava socando a porta do quarto, falando pra ir ver tirar leite de vaca, regar horta, matar porco, colher goiaba.

Uma galerinha, filhos do caseiro, ficava de longe olhando pra mim. Depois vinham com uns papos mó estranho, não entendia nada o que eles diziam. Umas coisas tipo tuia, cafezá, carpi, prumódi, arquere. Bailei bonito. O tempo todo os meninos ficavam me vendo tc. Na boa, me senti no Big Brother.

Jogava counter strike de manhã, até a hora do almoço. Ficava destruído e mandava ver umas Pringles. Só tinha um pacote, e ficava racionando. Também tinha de reserva um chocolate Hershey’s. Comia um pedacinho por dia, quando acabasse ia ter que encarar rapadura.

À tarde entrava no msn e fikava um tempão com a galera que tava on. Blz,mas aí a máquina travou geral. Falei com o vô, mas o véio nem tava ligado, mó sem noção. Tive que me virar sozinho. Foram 4 dias editando os configs do sistema, reinicializando a cada 10 minutos. Nunca fiquei tanto tempo off. Mas no fim consegui.

Uma vez apareceu na fazenda um tiozinho falando de arroba. Arroba do boi, arroba do algodão. Esse aí manja de computer, pensei, deve estar falando de algum site. Mas quando mostrei o notebook pra ele, ele falou: "Nossa, que televisão fininha!". Aí desencanei. Outro sem noção.

Daí pra frente foi maneiro D+. O programa não travou mais, conheci um monte de gente nova e uma mina búlgara, mucho loka.

Quinta-feira passada um peão daqui apareceu com duas varinhas de bambu, me convidando pra ir pescar. Nem fui, nada a ver, coisa de véio seqüelado ficar lá com varinha na beira do rio. O cara surtou quando eu falei em molinete. Nem se tocava que existia.

Naquele dia eu tava com meu jeans e ele perguntou se eu tinha caído de um touro brabo, porque eu estava "cascarça rasgada no jueio e carecia pinchá". Não sabia o que era "pinchá". Entrei no Google, mas não rolou nenhuma ocorrência.

Na hora de vazar pra ksa, tava com meu iPod. Aí um dos carinhas da roça mandou essa: "Xavê esse radim di pi". Depois de um mês, já entendia um pouco aquele idioma. Deixei com ele. Ano que vem eu volto pra buscar.