Saturday, January 14, 2006

DIÁRIO DE UM CHEFE (FRAGMENTOS)

Segunda-feira, 29
Depois da janta com o Buch, uma bela buchada de bode para recepcionar o Chaves. Junto com ele, veio toda a comitiva: Chiquinha, sr. Barriga, dona Florinda, sr. Madruga e o Kiko. Rachamo o bico de dar risada e depois assistimo uns filme nacional, no cinema que tem aqui em casa. Quando terminou a seção, o Chaves ficou espetando o retrato do Buch com alfinete e falando: “foi sem querer querendo, foi sem querer querendo”... muito engrassado.

Terça-feira, 30
Dia agitado. Trabalhei até as duas da tarde, depois tive um encontro com o comando de greve das universidade. Ganhei um livro, chama “Caminho Suave”. Tem as letra grande, um monte de figura, mas ainda não deu tempo de começar a ler.

Quarta-feira, 31
Sabe, eu fico muito triste quando vejo na televizão aquelas fila de engenheiro, com MBA em Rafard e doutorado em Artur Nogueira, disputando a tapa uma vaga de lixeiro. Tudo bem, é lamentave. Mas e eu, gente, comigo ninguém se preocupa? E lá no meu sofazão comecei a falar com os botão do meu pijama: caramba, desde que eu tô aqui não pediram minha carteira de trabalho pra assinar, não troussero a papelada de Pis / Pasep, contrato de esperiença, essas coisa. Vai ver que eu tô de informal nessa bodega e não tô sabendo. Nunca me chegou um extrato de FGTS, pra conferir se está tudo direitinho com os depósito. Será que eu tenho que dar nota e me escrever no Simpres? Como diria o finado Joca Tranqueira, pelegão da Volks e meu padrinho de casamento, “é o ó do borogodó”.

Quinta-feira, 1
Não agüento mais esses protocolo na hora do almoço. É colherzinha pra comer estragô, garfo de peixe, garfo de carne, copo de vinho, copo de água, faca disso, faca daquilo... Que saudade do meu tempo de marmita. Era tudo na cuié. Pronto, sem frescura. Tudo eles pega no meu pé, fica tirando retrato que depois sai nos jornal. Outra coisa é esse negócio de avião. Se tem um que fica comigo pra sima e pra baixo, que mal tem aproveitar a viagem e levar uns amigo junto? É até um serviço que eu fasso, já que com isso temos, em bom economêis, uma economia de escala de avião.

Cesta-feira, 2
Nunca fui homem de deixar faltar as coisa dende casa. Mas numa casa destamanho, que nem a gente mora agora, fica difícil o trabalhador manter a despensa abastecida. Tudo bem que todo dia 30 vem a sesta básica. Mas pra quem literalmente se ferra de verde e amarelo, essa sestinha é muito mircha. Lá no sindicato sim, todo mês vinha uma daquelas, bem farta. Fubá, sardinha em lata, maça de tomate, bolacha maria, farinha de rosca e sal. E sal iodado, companheiro. Não era fraco, não. O Joaquinzão, por exempro, que não se meteu nessa enrascada em que eu estou, continua recebendo a dele. E eu, não tenho filho pra criar? Ora, fassame o favor. Não bastace tudo isso, tem a história das pensão como preso político, que eu tenho direito e não resebo. Fui pro xilindró não sei quantas vez. A minha língua, coitada, continua presa até hoje. E os meus inimigo, que tem a língua solta, vive jogando na minha cara que essa mamata eu não vou conseguir.

Sábado, 3
Reunião de cúpula com a patroa.

Domingo, 4
Continuassão da reunião de cúpula.

Segunda-feira, 5
Pacei hoje o dia inteiro no ofurô, pensando no povão. O Projeto “Pois é” é um bom exempro do que pode ser feito pro brasileiro melhorar de vida. Essas coisa ninguém fala. Fizemos uma campanha na mídia e criamo até um personagem, o Nelson Piquete, pra apresentar o carro proletário pros peão de fábrica. Um modelo básico, com direção e acelerador opissional, e que roda 25 quilômetro com um copinho de cachaça. Em pauta pro prócimo ano está o programa “Motocicreta pra Todos”. Vamo importar 12.000 motos “Namarra”, 125 cilindrada, produzidas no Paraguai. Também está em faze de estudos a distribuição do tênis Reboque, para os camarada da construção civil. Ainda do nosso vizinho Paraguai traremos novo alento à infância desacistida, com a importação de dois vagão de pilha “Vai-O-Racha”, que vão dar vida nova pras bonecas, os ursinho e os carrinho da gurizada nacional.

Cesta-feira, 9
Fiquei uns dia sem escrever porque a situação tá preta. Pegaram o Tadeu com a boca na botija. Ele andou fazendo umas coisa feia que eu não tava sabendo, o safado. Me falaram que eu posso me estropiar mesmo sem ter nada haver com o pato. Conciente dos meus direito, fui tirar a limpo essa história com os bam-bam-bam que entende da lei. Disse que não ia sair assim não, que não ia intregar a rapadura. Eles falaram pra eu ir embora com um pé naquele lugar e uma mão na frente. Mas aí me lembrei dos tempos de sindicato e enduressi na negociação. Disse que só saía com um bom acordo - no mínimo com uma mão na frente, outra atrás e mais o chutão nos fundilho. Aí um dos bacana falou assim que eu não ia ficar sem eira nem beira, que dava pra arrumar também uma eira e uma beira bem reforçada. Milhor. Já dá pra acertar a vida antes de voltar pro batente.