Sunday, January 29, 2006

PERGUNTE AO DUÑA

TENHO AS DUAS PERNAS GANGRENADAS, A AORTA ENTUPIDA E APENAS UM PULMÃO (TRIPLAMENTE PERFURADO). E AGORA, DUÑA?

Agora, é bola pra frente. Segundo o Dr. Brown Rutherford, em seu aclamado estudo “Manifestações psicossomáticas no homem caucasiano de meia idade”, o único tratamento possível é a antropotectomia, que consiste em extirpar do paciente o próprio corpo e colocar outro no lugar. Simples.

SAPIENTÍSSIMO MESTRE: O SENHOR É A FAVOR DO DESARMAMENTO?

Depende do porte da arma: pequeno, médio ou grande. As armas de porte pequeno são geralmente inofensivas, o que as torna sem efeito prático, nem mesmo para intimidação psicológica do bandido. Mais envergonham que protegem o proprietário. As de porte médio amedrontam quando muito os ladrões de galinha, geralmente munidos de armas de igual calibre e mais experientes em seu manejo que o cidadão pacato. Já as de grande porte estão todas nas mãos das quadrilhas organizadas, e o fato de possuí-las significa, conseqüentemente, que você é integrante de uma delas.

CARO DUÑA,
ANDO MUITO DESANIMADO NO TRABALHO. QUANTO MAIS ME ESFORÇO, MENOS SOU RECONHECIDO. TODOS DESPREZAM MINHAS OPINIÕES E MEU ASSISTENTE GANHA TRÊS VEZES MAIS DO QUE EU. GOSTARIA DE UM CONSELHO.

Recomendo a leitura do livro “Ossos do Ofício”, biografia do coveiro piauiense Benevides Denófrio Ramos. Em estilo claro e conciso, o autor discorre sobre o dilema de sua profissão à luz da doutrina positivista, de onde o leitor poderá extrair um verdadeiro bálsamo para a solução de seus problemas.

QUAL A IDADE IDEAL PARA CONTRAIR MATRIMÔNIO?

Um pouco depois da idade ideal para contrair patrimônio. Aliás, “contrair” não sei se é bem o termo. Melhor seria o oposto, “expandir patrimônio”. Casar hoje em dia exige estrutura financeira, meu filho.

EXISTE UMA ÁRVORE GENEALÓGICA DA FAMÍLIA DUÑA?

Não. O que se sabe é que a dinastia Duña é oriunda da Espanha. O ramo da família a imigrar para a América teve como patriarca Hector Duña, meu bisavô. Hector era casado com uma italiana, Filipa Cazzone. Transtornado com o sacolejo do navio que os trazia ao Brasil, meu bisavô morreu de enjôo, cabendo a Filipa a missão de disseminar a filosofia duñesca por essas plagas.

QUAL A ORIGEM DAS EXPRESSÕES “NEM QUE A VACA TUSSA”, “PODE TIRAR O CAVALINHO DA CHUVA”, “QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO” E “UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO”?

Macacos me mordam! É evidente que todas elas são de origem animal.

SOFRO MUITO COM MEU COMPLEXO DE INFERIORIDADE. ELE ME ATRAPALHA NAS TAREFAS MAIS CORRIQUEIRAS, COMO IR À QUITANDA OU DAR UM PASSEIO COM MINHA FILHINHA NO GLOBO DA MORTE. QUE FAZER?

Consultando meus alfarrábios, encontrei uma simpatia que talvez ajude no seu caso. Junte 1 e 1/2 colher (das de chá) de canjica dormida na geladeira, duas moléculas de hidrogênio mais uma de oxigênio (ou água pronta, se tiver aí na sua casa) e 3 penas de calopsita. Aqueça em fogo mais ou menos brando, espere esfriar e tome de um gole só.

VENERÁVEL DUÑA,
PASSO PELO MENOS 16 HORAS POR DIA JOGANDO “CARA OU COROA”. TENHO OBSERVADO QUE EM 21% DAS VEZES O RESULTADO É “CARA” E EM 79% “COROA”, O QUE CONTRARIA COMPLETAMENTE A LEI DAS PROBABILIDADES. A QUE POSSO ATRIBUIR ISSO?

A moeda está viciada. Leve-a a uma clínica de recuperação, onde terá a orientação adequada para restabelecer o equilíbrio e se livrar da dependência. De cara, posso garantir que a tentativa será coroada de êxito.

QUAL O SENTIDO DA VIDA?

Não me aborreça. Nem eu nem meus leitores temos tempo a perder com questões menores como esta.

O SENHOR ESTÁ ME EXPULSANDO DAQUI?

Exatamente.

ASSIM, SEM MAIS NEM MENOS?

É. Agora dê o fora, tem mais gente querendo fazer perguntas.

OLÁ, DUÑA. ME DIGA UMA COISA: COMO EU FAÇO PARA ALCANÇAR A ILUMINAÇÃO?

Mantenha o interruptor de luz à altura de suas mãos.

JÁ TENTEI DE TUDO, MAS NÃO CONSIGO ACABAR COM MINHA INSÔNIA. O SENHOR TEM ALGUMA SUGESTÃO?

Tudo no universo está em contínua transformação. Olhe ao seu redor e perceberá que tudo muda, menos o papel da bala Chita e o repertório do Cauby Peixoto. Aproveite cada segundo não como se fosse o segundo, mas sim o último. Experimente o seguinte: reserve um tempinho em sua rotina para fazer o que realmente gosta: praticar ioiô, descascar rabanetes ou colecionar abotoaduras, por exemplo. Isso feito, pegue uma enxada e capine mato durante três dias seguidos. Você vai ver se o sono vem ou não vem.

SOU ACOMETIDA FREQÜENTEMENTE POR EPISÓDIOS DE DÉJÀ VU, AQUELA SENSAÇÃO QUE A GENTE TEM DE QUE AQUILO QUE ESTÁ ACONTECENDO JÁ ACONTECEU. ISSO É UMA IMPRESSÃO SUBJETIVA OU É A PROVA DE QUE EXISTE REENCARNAÇÃO?

Nem uma coisa, nem outra. O problema é a sua cabeça mesmo. Já é a 23ª vez que a senhora me faz essa pergunta.

ESTOU ABRINDO UM RESTAURANTE VEGETARIANO. SERÁ QUE O DUÑA PODERIA DAR UMA SUGESTÃO DE NOME?

Que tal “Contra-Filé”?

Faça você também suas perguntas para o Duña. E-mails para msguassabia@yahoo.com.br. Pode escrever que o Duña responde.

CINE LUXOR

Vinte e quatro quadros por segundo. A ilusão do movimento no seu olhar desiludido, em jogos de luz e sombra. Veio porque é domingo, depois da igreja e do almoço só pode haver o cinema. As manhãs preguiçosas do domingo, as tardes estéreis do domingo, as noites insuportáveis do domingo trazendo o nojo inevitável da segunda.

Ceda. Deixe estar, não há o que possa ser feito. Nada como uma inocente matinê quando o oco da existência se apresenta e toma assento. É, está sentado ao seu lado com aquela cara impassível e pagou meia, o espertinho.

Lá fora o mundo é lesma, um esparramar demoroso. Só o que prossegue é a sessão nesses rincões esquecidos. Uns poucos bem-te-vis pousados nos beirais do palácio branco em frente ao jardim. Num dos quartos alguém decerto faz a sesta reparadora. Passe pelo corredor, pare na sala. Os retratos a óleo simetricamente dispostos, os móveis espanados. Os ricos fartos do seu manjar, seus rostos sentindo agora a felpa dos veludos. Estão em paz com seus corpos e saciados em seus haveres.

Pegada à mansão, a escola. Muda e descorada, descansa solenemente da algazarra dos meninos. Em preto e branco e câmera lenta, um cachorro erguendo a pata e urinando no pneu. Todos na Vila Alva cheios como pneus – do dia que não acaba, das horas que não passam, da notícia que não chega. A rotina sem novidades de qualquer ordem, substancial e definitiva como um paralelepípedo. É o momento em que o olho pede lupa, a alma pede ânimo e cada coisa estática mostra a crueza que tem.

Espere um pouco. Volte ao filme. Rebobine, projecionista. Dez minutos de devaneio e lá se foi o enredo da história. Se alguém perguntar qual filme viu, não saberá responder. Abra uma bala. Chore, chorar faz bem. Nem vão reparar, tão pouca gente aí dentro. Estúdios de animação do mundo todo, uni-vos para animá-lo. Depressa, antes que lhe arrastem mil elencos de fantasmas e vilões. Lanterninha, acuda lançando luz sobre seus olhos marejados.

A perna dorme, o corpo cansa no estreito da cadeira. Cruze os braços, tente entender os diálogos sem olhar as legendas. Durma. Faça como a perna: durma. Tanta gente paga ingresso de cinema para dormir. Jogue-se num triplo mortal ao centro da tela. Deixe-se ser o mocinho desse roteiro caótico. Corta. Câmera abre o enquadramento e faz uma lenta panorâmica por toda extensão do que você foi até agora. Basta de fazer o cartaz do filme alheio. Veja a platéia vendo você dentro da fita, brilhe, acene, dê autógrafos, sinta aos seus pés o tapete vermelho da entrada do Oscar. Perpetue-se no celulóide. Coragem, vá. Queime de uma vez os negativos desses dias: bem-vindo à avant-première de si próprio, em doube surround e pleno de efeitos especiais. A comédia de levezas indizíveis, com o sapateado frenético dos musicais da Metro. Até a bilheteira rói as unhas, torcendo pelo seu final feliz. Se não pela sua vontade, ao menos pela bilheteira seja feliz para sempre. The End.

Saturday, January 14, 2006

DIÁRIO DE UM CHEFE (FRAGMENTOS)

Segunda-feira, 29
Depois da janta com o Buch, uma bela buchada de bode para recepcionar o Chaves. Junto com ele, veio toda a comitiva: Chiquinha, sr. Barriga, dona Florinda, sr. Madruga e o Kiko. Rachamo o bico de dar risada e depois assistimo uns filme nacional, no cinema que tem aqui em casa. Quando terminou a seção, o Chaves ficou espetando o retrato do Buch com alfinete e falando: “foi sem querer querendo, foi sem querer querendo”... muito engrassado.

Terça-feira, 30
Dia agitado. Trabalhei até as duas da tarde, depois tive um encontro com o comando de greve das universidade. Ganhei um livro, chama “Caminho Suave”. Tem as letra grande, um monte de figura, mas ainda não deu tempo de começar a ler.

Quarta-feira, 31
Sabe, eu fico muito triste quando vejo na televizão aquelas fila de engenheiro, com MBA em Rafard e doutorado em Artur Nogueira, disputando a tapa uma vaga de lixeiro. Tudo bem, é lamentave. Mas e eu, gente, comigo ninguém se preocupa? E lá no meu sofazão comecei a falar com os botão do meu pijama: caramba, desde que eu tô aqui não pediram minha carteira de trabalho pra assinar, não troussero a papelada de Pis / Pasep, contrato de esperiença, essas coisa. Vai ver que eu tô de informal nessa bodega e não tô sabendo. Nunca me chegou um extrato de FGTS, pra conferir se está tudo direitinho com os depósito. Será que eu tenho que dar nota e me escrever no Simpres? Como diria o finado Joca Tranqueira, pelegão da Volks e meu padrinho de casamento, “é o ó do borogodó”.

Quinta-feira, 1
Não agüento mais esses protocolo na hora do almoço. É colherzinha pra comer estragô, garfo de peixe, garfo de carne, copo de vinho, copo de água, faca disso, faca daquilo... Que saudade do meu tempo de marmita. Era tudo na cuié. Pronto, sem frescura. Tudo eles pega no meu pé, fica tirando retrato que depois sai nos jornal. Outra coisa é esse negócio de avião. Se tem um que fica comigo pra sima e pra baixo, que mal tem aproveitar a viagem e levar uns amigo junto? É até um serviço que eu fasso, já que com isso temos, em bom economêis, uma economia de escala de avião.

Cesta-feira, 2
Nunca fui homem de deixar faltar as coisa dende casa. Mas numa casa destamanho, que nem a gente mora agora, fica difícil o trabalhador manter a despensa abastecida. Tudo bem que todo dia 30 vem a sesta básica. Mas pra quem literalmente se ferra de verde e amarelo, essa sestinha é muito mircha. Lá no sindicato sim, todo mês vinha uma daquelas, bem farta. Fubá, sardinha em lata, maça de tomate, bolacha maria, farinha de rosca e sal. E sal iodado, companheiro. Não era fraco, não. O Joaquinzão, por exempro, que não se meteu nessa enrascada em que eu estou, continua recebendo a dele. E eu, não tenho filho pra criar? Ora, fassame o favor. Não bastace tudo isso, tem a história das pensão como preso político, que eu tenho direito e não resebo. Fui pro xilindró não sei quantas vez. A minha língua, coitada, continua presa até hoje. E os meus inimigo, que tem a língua solta, vive jogando na minha cara que essa mamata eu não vou conseguir.

Sábado, 3
Reunião de cúpula com a patroa.

Domingo, 4
Continuassão da reunião de cúpula.

Segunda-feira, 5
Pacei hoje o dia inteiro no ofurô, pensando no povão. O Projeto “Pois é” é um bom exempro do que pode ser feito pro brasileiro melhorar de vida. Essas coisa ninguém fala. Fizemos uma campanha na mídia e criamo até um personagem, o Nelson Piquete, pra apresentar o carro proletário pros peão de fábrica. Um modelo básico, com direção e acelerador opissional, e que roda 25 quilômetro com um copinho de cachaça. Em pauta pro prócimo ano está o programa “Motocicreta pra Todos”. Vamo importar 12.000 motos “Namarra”, 125 cilindrada, produzidas no Paraguai. Também está em faze de estudos a distribuição do tênis Reboque, para os camarada da construção civil. Ainda do nosso vizinho Paraguai traremos novo alento à infância desacistida, com a importação de dois vagão de pilha “Vai-O-Racha”, que vão dar vida nova pras bonecas, os ursinho e os carrinho da gurizada nacional.

Cesta-feira, 9
Fiquei uns dia sem escrever porque a situação tá preta. Pegaram o Tadeu com a boca na botija. Ele andou fazendo umas coisa feia que eu não tava sabendo, o safado. Me falaram que eu posso me estropiar mesmo sem ter nada haver com o pato. Conciente dos meus direito, fui tirar a limpo essa história com os bam-bam-bam que entende da lei. Disse que não ia sair assim não, que não ia intregar a rapadura. Eles falaram pra eu ir embora com um pé naquele lugar e uma mão na frente. Mas aí me lembrei dos tempos de sindicato e enduressi na negociação. Disse que só saía com um bom acordo - no mínimo com uma mão na frente, outra atrás e mais o chutão nos fundilho. Aí um dos bacana falou assim que eu não ia ficar sem eira nem beira, que dava pra arrumar também uma eira e uma beira bem reforçada. Milhor. Já dá pra acertar a vida antes de voltar pro batente.

Monday, January 02, 2006

BATE-BOLA

COM NERO

Time de futebol
Botafogo.

Filme
Quanto mais quente, melhor.

Cidade
Lavas.

Música
Me chama.

Uma paixão
Joelma.

Um trauma
Hidrantes.

Um ditado
Onde há fumaça, há fogo.

Jogo
Queimada.

Prato favorito
Macarrão ardente.

Sobremesa
Doce de coco queimado.

Sonho impossível
Extintor de água.

Bebida
Whisqueiro.

Elemento Químico
Fósforo.

Livro
Os segredos do Churrasco.

Cigarro
Aceso.

Pneu
Firestone.

Cor
Cinza.

Desenho animado
Os Brasinhas do Espaço.

Programa de TV
Tela Quente e Temperatura Máxima.

Roupa
Só de queima de estoque.

Lugar mais estranho onde já fez amor
Escada de incêndio.

Viagem
De foguete.

Amar é
Não deixar o desejo apagar.

Defeito
Ter o pavio curto.

Desejo
Tocar cítara tão bem quanto toco fogo.





COM DELFIM NETO

Carro
Renault Selic com câmbio flutuante.

Passeio
Circuito das Águas, com desconto na fonte.

Investimento
Poupe seu tempo e economize espaço no jornal. Duas perguntas já está bom.





COM GIL GOMES

Comida
Presunto.

Música
Ronda.

Filme
Corra que a polícia vem aí.

Livro
Memórias do Cárcere.

Teatro
Uma facada.

Uma virtude
Garra.

Um crime hediondo
Morte seguida de estupro.

Passatempo
Xadrez.

Roupa
Forum.

Sonho de consumo
Cela ampla e luxuosa, com requintes de crueldade.

Lugar legal
O Instituto Médico.

Carro
Envenenado.

Situação econômica
Enforcado.

Cartão de Crédito
Roubado.

Cachorro
Policial.

O que incomoda
Prisão de ventre.

Filosofia
Sorria. Você está sendo filmado.

Acabou.
Que pena.





COM BEETHOVEN

Carro
No concerto. Só andava em ré.

Instrumento
Hein?

Instrumento!
Hein?

Instrumentoooooooo!!!!!
Ah sim, instrumento. Surdo.

Fruta
A Nona.

Lugar
Lá.

Desodorante
Moderato.

Relógio
De cordas.

Comida
Bis.

Cachorro
Bravo!

O que anda ouvindo
Hein?





COM SHERLOCK HOLMES

Música
Adivinhe.

Hobby
Investigue.

Cor
Deduza.

Filme
Sou suspeito pra falar.

Uma pista
Rodovia dos Bandeirantes.

Quem é o culpado
Ele.

Ele quem?
Elementar.

Objeto de desejo
A Lupa do Oliveira.

Prato preferido
Comida álibi.

Caso insolúvel
Água e óleo.

Carro
Siga-o.

Ídolo
Conan. O Doyle, não o Bárbaro.

Amigo de valor
Meu caro Watson.

Filosofia
Agora tudo se encaixa.

Um ditado
A primeira impressão digital é a que fica.

Uma dúvida
Nenhuma. Foi o mordomo.

Animal
A gata Christie.

Finalize o interrogatório
Pergunta pro Nero se ele tem fogo pro meu cachimbo.